O verdadeiro antídoto contra o obscurantismo da Nomenklatura científica e da Grande Mídia tupiniquim

domingo, julho 23, 2006

Bernardo Esteves, do Ciencia Hoje, escreveu pequeno relato sobre a popularização da ciência abordada na 58ª. Reunião Anual da SBPC (16-21 de julho de 2006) realizada na UFSC em Florianópolis, SC, intitulado Antídoto contra o obscurantismo.



Esteves considera essas atividades de popularização da ciência como mais do que nunca fundamentais para informar o público. Este pequeno relato foi divulgado também pela newsletter online da SBPC, JC e-mail 3063, de 21 de Julho de 2006.

Quase deixei de ler o resto da 'notícia científica' quando Esteves embaralhou no seu artigo duas questões completamente antípodas e carregadas de subjetivismo dicotomista e demonizador: a favor ou contra, ciência ou pseudociência, razão versus irracionalidade.

Esteves afirmou que devido ao fato de "temas como criacionismo [leia-se – até mesmo as críticas verdadeiramente científicas contra as especulações transformistas de Darwin como as dos teóricos e proponentes da Teoria do Design Inteligente] e o questionamento do uso dos animais para pesquisa" ganharam um espaço cada vez maior na esfera pública "é fundamental que haja mais iniciativas que promovam o conhecimento dos fundamentos científicos por trás dessas questões".

Alguém aí da patuléia científica pode me explicar por que gastar mais dinheiro público com 'iniciativas' promovendo 'conhecimento dos fundamentos científicos' por trás dessas questões? Não tenho procuração dos criacionistas [há criacionistas e criacionistas...], mas não posso deixar passar batida essa aberração de Lógica Darwinista 101. Se o criacionismo é pseudociência, conhecer esses tais de 'fundamentos científicos por trás dessas questões' é o quê? Ciência ou pseudociência?

QED: Eles farão pseudociência e mau uso do dinheiro público. Leitor, proteste contra mais esse mau uso do dinheiro público e condenem essa postura cara-de-pau desses cientistas.

A socióloga Maria Lúcia Maciel, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, afirmou que a democratização das oportunidades educacionais será esse 'antídoto de longo prazo' para esse problema apresentado em mesa-redonda abordando o tema, mas segundo Maciel, "é necessário fazer mais" e que os cientistas têm a responsabilidade de "levar ao público os conhecimentos gerados nos centros de pesquisa".

Concordo 100% com Maciel. Que tal começarmos com algumas perguntas bem impertinentes e que a Nomenklatura científica e a Grande Mídia tupiniquim querem fazer calar:

1. Coisas não-vivas deram origem a organismos vivos;
2. A abiogênese ocorreu uma vez;
3. Os vírus, bactérias, plantas e animais são todos inter-relacionados;
4. Os protozoários deram origem aos metazoários;
5. Vários filos de invertebrados são inter-relacionados;
6. Os invertebrados deram origem aos vertebrados; e
7. Peixes, répteis, aves e mamíferos tiveram origem ancestral comum

Ou como evitar a tautologia da 'sobrevivência do mais apto'? Por que o privilégio da biologia evolutiva na reconstrução históricas desses eventos quando a 'evolução'é um fato amplamente confirmado pelas evidências? Ou quem sabe uma ainda mais simples – de onde veio a informação genética?

Entenda aqui o que você quiser sobre o que seja evolução – o termo é superelástico de significado, mas desprovido até hoje de confirmação empírica – são dogmas aceitos a priori. Olha que já se vão quase 150 anos de pesquisas no mundo inteiro, mas o que é esse curto espaço tempo em comparação com as imensas eras de processos evolutivos, não é mesmo? Afinal de contas, idiota, a evolução é muito mais competente do que você imagina...

É este envolvimento dos pesquisadores com a divulgação científica defendida por Antônio Carlos Pavão, professor da Universidade Federal do Pernambuco e diretor do Espaço Ciência, que os pesquisadores deveriam resgatar: produzir o conhecimento e de levá-lo ao público. Já chega de tanta metafísica que a Folha de São Paulo nos impinge semanalmente com o divulgador científico pop-star Marcelo 'Carl Sagan tupiniquim' Gleiser.

Pavão [argh, é quase como cometer um assassinato, mas Darwin tinha ojeriza epistêmica por esta monstruosidade evolutiva...] citou o caso de Galileu Galilei (1564-1642) e de Michael Faraday (1791-1867) e de Albert Einstein (1879-1955) como exemplos de divulgadores de ciência.

A ironia fina aqui que Pavão não percebeu – ou foi apenas um 'cochilo ideológico'? – mas Galileu Galilei e Michael Faraday foram dois 'famigerados criacionistas da Terra jovem'... Como é que isso vai se encaixar agora com a proposta de Maciel de mais iniciativas promovendo o conhecimento dos fundamentos científicos por trás dessas questões? Quer dizer então que pelo forte estrabismo epistemológico defendido pela Nomenklatura científica se alguém for criacionista ela não pode ser cientista nem fazer ciência?

Senhores e meninos, não se esqueçam de alertar o público que lhes paga os salários que essas iniciativas são de visão unilateral e de cunho estritamente ideológico.

Uma parte interessante do pequeno artigo de Esteves foi a questão da especificidade do jornalismo – uma perspectiva diferente destacada pelo jornalista Marcelo Leite, colunista e colaborador da Folha de S. Paulo, ao discutir aspectos distinguindo as reportagens sobre ciência publicadas na imprensa diária de outras iniciativas de divulgação. Leite apenas disse o óbvio: “O jornalismo científico é jornalismo antes de ser científico” ao se referir à notícia como sendo caracterizada pelo ineditismo e pela relevância.

Mais interessante ainda foi a nova tese defendida por Leite: os repórteres deveriam assumir uma postura mais crítica em relação à ciência – um atributo essencial para a prática do jornalismo. Marcelo Leite afirmou na V São Paulo Research Conference – USP 18-21 de maio de 2006, na mesa-redonda sobre essa questão, que a Grande Mídia tupiniquim 'não dava espaço' para os críticos de Darwin. Temos aqui um caso de 'metanóia'? O 'caminho de Damasco epistêmico' de Marcelo Leite?

A pergunta de Leite é sutil, mas precisa e deve ser levada em consideração:

"Até que ponto o jornalista pode escrever com autoridade e de maneira crítica sobre ciência? Um jornalista pode ser crítico de ciência, como existem críticos de arte, música ou literatura? Esse é um ponto de atrito muito comum entre jornalistas e cientistas". A solução para este aparente nó górdio, aliás, é muito simples, basta a Folha de São Paulo e os demais veículos da Grande Mídia tupiniquim contratarem jornalistas com pelo menos mestrado e ou doutorado nessas áreas científicas.

Concordo plenamente com a apreciação crítica sobre a ciência que Leite defende nos jornalistas ser estendida ao conjunto do público através das atividades de popularização da ciência: “A primeira grande função da divulgação científica é despertar o público para a maravilha do conhecimento sobre a natureza – considero a ciência natural é uma das aventuras intelectuais mais fantásticas da cultura”.

Só que para desenvolver o espírito crítico nos leitores não-especializados deve ser uma iniciativa permitindo que todas as perguntas sejam feitas. Nada de 'não dar espaço' para perguntas que incomodam o status quo epistêmico de certas teorias. Não existe 'theoria perennis' em ciência, e Darwin não pode nem deve ser a exceção.

Esteves, o obscurantismo que você não destacou, nem podia fazê-lo por razões mais do que óbvias, e que todos nós entendemos, é o obscurantismo da Nomenklatura científica e da Grande Mídia tupiniquim polarizar sempre essa questão como sendo ciência versus religião, como sendo razão versus irracionalidade.



A questão hoje em dia, Esteves, nunca esteve tão bem localizada: é uma questão científica. Não é se as especulações transformistas de Darwin contrariam relatos de criação de tradições religiosas, mas se as evidências encontradas na natureza apóiam ou não as hipóteses de Darwin? Elas não apóiam e apontam noutra direção – design inteligente.

Esteves, o verdadeiro antídoto contra esse obscurantismo é – menos empáfia, mais honestidade acadêmica, menos ideologia, mais liberdade acadêmica e mais ciência quando a questão é Darwin. Nada mais, nada menos...

Pro bonum scientia!