Desencadeando (ou imaginando?) a evolução dos animais multicelulares

quinta-feira, dezembro 14, 2006

Foram publicados recentemente dois artigos documentando uma associação entre o fim das deposições glaciais da parte final do período Proterozóico, uma elevação nos níveis de oxigênio nas águas oceânicas e o surgimento de animais multicelulares (a fauna de Ediacara). Sem dúvida que associações desse tipo são interessantes, e elas provocam hipóteses de causa e efeito. Isso é visivelmente aparente nos seguintes comentários publicados em duas revistas científicas de renome neste mês de dezembro:

O editor da Nature: “um aumento de oxigênio nas profundezas do oceano […] parece estar associado com a evolução de animais complexos”. Fike et al (in Nature): “ […] indicando que este evento pode ter tido um papel importante na evolução dos organismos eucarióticos”.

Kerr (in Science): "A Shot of Oxygen to Unleash the Evolution of Animals" [Uma injeção de oxigênio para desencadear a evolução dos animais] Canfield et al (in Science): “Os primeiros membros conhecidos da biota de Ediacara são encontrados logo após a glaciação Gaskiers, sugerindo um elo causal entre a sua evolução e este evento de oxigenação”. [1]

O que eu quero destacar aqui é uma tendência [não seria fraqueza em pensar mais seria e cientificamente sobre o assunto?] de os darwinistas afirmarem que se as condições forem favoráveis então, vapt, vupt, a evolução da vida é inevitável. A Lógica Darwinista 101 afirma nos livros didáticos de Biologia que se tivermos uma sopa prebiótica num ambiente químico redutor as células, vapt, vupt, se formarão.

A Grande Mídia Tupiniquim exagera também em relação à possibilidade de se encontrar água em Marte. Água = vida. Não é tão simples assim, e os cientistas sabem disso. Adulados (não seria 'adorados'?) e nunca devidamente questionados pelos repórteres científicos [falta de formação científica adequada ou a influência da ideologia filosófico-naturalista???], os cientistas e os jornalistas deixam passar a idéia absurda para os leitores não-especializados de que basta encontrar água em qualquer lugar inóspito e, vap, vupt, a vida se forma. Isso não é ciência, isso é conto de fadas naturalista. Não seria alquimia???

A vida unicelular começou lá no pré-cambriano e os cientistas não sabem como começou. Nota bene: Não sabemos como tudo começou. O que nós temos hoje em dia em termos de origem da vida é um amontoado de especulações mirabolantes que sequer podem ser nomeadas como teorias científicas. É um vale-tudo epistemológico. Aliás, é um verdadeiro smorgasbord epistêmico, mas nada científico. Livre pensar...

A sugestão feita agora é de que à medida que os níveis de oxigênio subiram, novas forças de seleção [???] foram liberadas para a evolução dos organismos multicelulares. Durma-se com um barulho desses – esta hipótese é lançada assim sem mais nem menos e sem nenhuma razão que a apoie. Alguém já afirmou que isso ilustra muito bem um dos principais problemas que nós deparamos com a teoria da evolução química e orgânica: a tendência dos cientistas falarem em termos de física e química em detrimento da informação. Sem parecer irônico [ou grosseiro] para com os evolucionistas, mas deixar de abordar a questão da informação biológica complexa, esta hipótese não é mais do que um reles verniz evolutivo sobre algumas observações muito interessantes.

Oxidation of the Ediacaran Ocean
D. A. Fike, J. P. Grotzinger, L. M. Pratt and R. E. Summons
Nature 444, 744-747 (7 December 2006) | doi:10.1038/nature05345
Oxygenation of the Earth's surface is increasingly thought to have occurred in two steps. The first step, which occurred ~2,300 million years (Myr) ago, involved a significant increase in atmospheric oxygen concentrations and oxygenation of the surface ocean 1, 2. A further increase in atmospheric oxygen appears to have taken place during the late Neoproterozoic period 3, 4 (~800–542 Myr ago). This increase may have stimulated the evolution of macroscopic multicellular animals and the subsequent radiation of calcified invertebrates 4, 5, and may have led to oxygenation of the deep ocean 6. However, the nature and timing of Neoproterozoic oxidation remain uncertain. Here we present high-resolution carbon isotope and sulphur isotope records from the Huqf Supergroup, Sultanate of Oman, that cover most of the Ediacaran period (~635 to ~548 Myr ago). These records indicate that the ocean became increasingly oxygenated after the end of the Marinoan glaciation, and they allow us to identify three distinct stages of oxidation. When considered in the context of other records from this period 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13, 14, 15, our data indicate that certain groups of eukaryotic organisms appeared and diversified during the second and third stages of oxygenation. The second stage corresponds with the Shuram excursion in the carbon isotope record 16 and seems to have involved the oxidation of a large reservoir of organic carbon suspended in the deep ocean6, indicating that this event may have had a key role in the evolution of eukaryotic organisms. Our data thus provide new insights into the oxygenation of the Ediacaran ocean and the stepwise restructuring of the carbon 6, 16, 17 and sulphur cycles 3, 18, 19 that occurred during this significant period of Earth's history.

Late-Neoproterozoic Deep-Ocean Oxygenation and the Rise of Animal Life
Don E. Canfield, Simon W. Poulton, and Guy M. Narbonne
Published online December 7 2006; 10.1126/science.1135013 (Science Express Reports)
Animals have an absolute requirement for oxygen, and an increase in late Neoproterozoic oxygen concentrations has been forwarded as a stimulus for their evolution. The iron content of deep-sea sediments show that the deep ocean was anoxic and ferruginous before and during the Gaskiers glaciation 580 million years ago, becoming oxic afterward. The first known members of the Ediacara biota are found shortly after the Gaskiers glaciation, suggesting a causal link between their evolution and this oxygenation event. A prolonged stable oxic environment may have permitted the emergence of bilateral motile animals some 25 million years later.
See also: Kerr, R.A. A Shot of Oxygen to Unleash the Evolution of Animals, Science 314, 8 December 2006: 1529.

Nota:

[1] Editor of Nature: “an increase in oxygen in the deep ocean […] appears to have been associated with the evolution of complex animals.” Fike et al (in Nature): “ […] indicating that this event may have had a key role in the evolution of eukaryotic organisms.” Kerr (in Science): "A Shot of Oxygen to Unleash the Evolution of Animals"

Canfield et al (in Science): “The first known members of the Ediacara biota are found shortly after the Gaskiers glaciation, suggesting a causal link between their evolution and this oxygenation event.”

Artigo elaborado sobre os ombros de um gigante