Evolução: o mito da ‘Theoria perennis’ ou o besteirol pós-modernista de um editor da VEJA – Parte 1 de 3

domingo, fevereiro 04, 2007

Li cum granum salis e rigor cético o especial “Como a fé desempatou o jogo”, de Okky de Souza, a ciência explica como o cérebro produz o pensamento mágico. (Veja 1994, de 7 de fevereiro de 2007, pp. 78-85).

Quase não prossegui com a leitura pelo reducionismo epistêmico absurdo de Okky de Souza: “Os antepassados humanos que desenvolveram a capacidade de crer foram os únicos a sobreviver à Idade do Gelo. Isso explica por que a fé resiste mesmo quando a ciência prova que o sobrenatural nada mais é do que química e eletricidade”.

Além disso, eu prometi a Darwin neste blog que não permitiria a deturpação de sua teoria pelos seus atuais discípulos com elementos estranhos à teoria da evolução pela seleção natural, bem como alerto aos de concepções religiosas que os atuais darwinistas estão tentando cooptá-los para uma adesão às teses transformistas de Darwin sem nenhum comprometimento com as suas cosmovisões. Nada mais falso, e que precisa ser veementemente denunciado.

Não pretendo fulanizar essa questão aqui à la Diogo Mainardi, mas a imprensa precisa ser mais objetiva e apartidária quando a questão é Darwin e a sua teoria geral da evolução ainda não substanciada pelas evidências e a sua insuficiência epistêmica. Darwin 1.0 (1859) durou até a sua ‘eclipse’ em 1909; Darwin 2.0 vem estropiada e sofregamente resistindo desde os anos 1930 e 1940. Darwin 3.0 ainda não foi lançado para não estragar as comemorações do ‘culto à personalidade’ de Darwin-ídolo (12 de fevereiro de 2007 e em 2009).

As chamadas teorias de longo alcance histórico sofrem de uma grave dificuldade epistêmica e heurística, e a teoria geral da evolução é uma delas: não podem ser falseáveis. No caso aqui dos nossos antepassados que sobreviveram à Idade do Gelo, não temos como falsear essa hipótese absurda. Que vantagem evolutiva teria a crença, a projeção da mente numa divindade inexistente para um indivíduo ou toda uma população? Nenhuma. Explico, a teoria da evolução pela seleção natural não teve o ser humano em mente, é um processo cego e aleatório, e não teleológico. É um processo de erro e acerto, e seja o que Deus, oops Darwin quiser.

Será que os ‘antepassados humanos que desenvolveram a capacidade de crer’ numa divindade foram realmente ‘os únicos a sobreviver a Idade do Gelo’? Como Okky de Souza e os cientistas sabem disso? Como ele não propôs falsear a hipótese, sou forçado a imaginar uma possível situação escatológica daqueles nossos antepassados diante do iminente cataclismo. Drawink, o mais apto e brilhante deles, teve um insight evolutivo brilhante, e do alto do cume do monte Branco apresentou diante de todos uma tábua de pedra com os seguintes dizeres: “Credo quia absurdum, mas se não crermos na projeção de nossa mente — uma divindade inexistente, nós não escaparemos do iminente cataclismo da Idade de Gelo”.

Houve uma tremenda confusão lá embaixo no arraial de nossos antepassados. Alguns tiveram ataques esquizofrênicos de choro e ranger de dentes. Outros simplesmente zombaram de tamanho absurdo: “Idade do Gelo, que idade do gelo coisa nenhuma, se nós nem sabemos o que é gelo?”. Os que resolveram ‘acreditar’ nessa muleta psicológica foram para suas cavernas resignados esperando a chegada da tal Idade do Gelo. Em suas cavernas eles ‘representaram’ essa divindade inexistente e, pela primeira vez na história de nossos antepassados, eles prestaram culto à projeção de suas mentes.

A Idade do Gelo veio inesperada e rapidamente. Triste sorte tiveram os que resolveram permanecer ateus, agnósticos ou céticos da divindade inexistente: pereceram todos no GCC (Grande Cataclismo Criogênico). Alguns fósseis desses ateus, agnósticos e céticos foram encontrados em perfeito estado de conservação. Alguns expressando no rosto o desespero da luta pela sobrevivência... Um deles com um panfleto surrealista na mão: “Credo quia absurdum vai nos salvar”!

E não é que a ‘muleta psicológica’ da Idade do Gelo anunciada por Drawink, um profeta que enxergou além dos seus pares, sobre como entrar na Arca de Drawink, oops na Idade do Gelo, funcionou! Salvou não somente a Drawink e aos nossos antepassados, mas a todos nós seus descendentes pós-modernos ateus, agnósticos, céticos e teístas.

Após vários anos, e bota ano nisso, Darwin, o descendente mais brilhante e mais apto de Drawink, teve um outro insight evolutivo e contou para nós uma história sobre a nossa origem e evolução, mas não sem reservas: a de estar visivelmente errado e de ter possivelmente dedicado sua vida a uma fantasia! Como acreditar numa hipótese derivada de uma mente de origem tão primitiva??? [1]

Diante desta superficialidade reducionista explicativa — ‘a fé resiste mesmo quando a ciência prova que o sobrenatural nada mais é do que química e eletricidade’, quase larguei o artigo especial. Seria perda de tempo. Razão: a ciência não explica o ‘sobrenatural’, e aqui nós temos um editor da revista VEJA, a mais importante do Brasil, afirmando que a ciência ‘explica’ sim o sobrenatural porque nós humanos somos puramente química e eletricidade. Como ‘explicar’ o ‘sobrenatural’ se a ciência não se propõe explicar isso? A ciência é EMPIRICA, EMPIRICE TRATANDA — as coisas empíricas são empiricamente consideradas. O que passar disso, e é o caso do subtítulo de Okky de Souza, é metafísica pura!

Uau! Stanislaw Ponte Preta, onde você estiver, com sua devida licença, acho que vou abrir neste blog uma seção de FEBEDAPÁ: Festival de Besteira Darwinista que Assola o País.
NOTA:
[1] DESMOND, A. e MOORE, J. “Darwin: A vida de um evolucionista atormentado”, São Paulo, Geração Editorial, 3ª. ed., rev. e ampliada, 2000, p. 497. Dedicatórias nos exemplares de cortesia.