Exposição DARWIN – MASP: Uma “vergonhosa” distorção historiográfica – Parte 2 de 4

sábado, julho 21, 2007

Vamos discorrer neste blog sobre os erros históricos encontrados na hágio-exposição “DARWIN” no MASP, em São Paulo [apoio da Folha de São Paulo, a Rede Globo de Televisão, entre os maiores representantes da Grande Mídia Tupiniquim], Bradesco, Instituto Sangari e o MEC [lei Rouanet]. Caracas, meu, lá se foi nosso suado dinheirinho pelo ralo que patrocinou uma baita e desavergonhada distorção histórica. Com o aval da Nomenklatura científica tupiniquim.

Como eu não sou da turma do ÔBA, eu sou da turma do EPA [obrigado, Diogo Mainardi, VEJA], destaco hoje somente duas distorções históricas sobre o homem que pensou ter descoberto tudo sobre o Homem.

Será que o curador do MASP sabia dessas coisas? E os monitores que “doutrinaram evangelisticamente” os nossos alunos do ensino fundamental e médio sabiam dessas inexatidões históricas em nome da ciência? Eu duvido. O primeiro por seus interesses maiores estarem focados na Arte. Os últimos pela sua formação acadêmica ainda temporã.

Mas o que são “inocentes” distorções históricas sobre o nosso Grande Líder epistemológico, não é mesmo, se nós já vimos fraudes muito mais cabeludas [Homem de Piltdown] do que essas ao longo da história da biologia evolutiva? Por que os darwinistas são useiros e vezeiros em “adulterar” a história? Deve ser algum “meme” cultural adaptativo que a pressão seletiva do ambiente [Akademia???] impôs aos mais aptos desde 1859.

Os nossos estudiosos mais capacitados, com mais experiência e respaldo acadêmico do que eu, até agora não se manifestaram. A Nomenklatura científica e a Grande Mídia tupiniquins, como é esperado dos que são apanhados com a mão na cumbuca, continuam silenciosas, esperando que este “herético historiador da ciência” se pronuncie. Os silêncios falam mais alto sobre o que nós queremos silenciar. Eu entendo essa reticência quando a questão é Darwin-ídolo: a Nomenklatura científica é antropofágica e destruidora de carreiras acadêmicas. Sei do que estou falando.

Como eu não tenho nada a perder academicamente [será???], posso desvelar essas distorções históricas encontradas na hágio-exposição “Darwin” — MASP:

I. “Antes de Darwin os seres humanos não eram considerados parte do mundo natural.”

NADA MAIS ESCANCARADAMENTE FALSO!

Salta aos olhos de uma mente treinada em história e teoria da ciência que a frase está negando que a teoria da evolução tenha sido desenvolvida por outros cientistas antes de Darwin. Gente, o que dizer então de Louis-Constant Prévost, Louis-Melchior Patrin, Jean-Baptiste Lamarck (1744-1829), Julien-Joseph Virey, Jean-Baptiste-Julien d’Omalius d’Halloy, Bory de Saint-Vincent, Ducrotoy de Blainville, Etienne Geoffroy Saint-Hilaire considerando os seres humanos parte do mundo natural? [1]

As consideradas “principais teses” de Darwin — ancestral comum a partir de alguns poucos organismos, modificação gradual, extinção ao longo das eras provocadas pela luta pela existência, uniformitarismo geológico, e a origem primata da espécie humana já eram propostas e defendidas.

NOTA DIGNA DE LOUVOR:

A hágio-exposição “Darwin” rejeitou o erro histórico amplamente aceito de que Darwin teve “a idéia mais brilhante que a humanidade já teve” [menos, Dennett, menos] nas ilhas Galápagos pela observação da radiação adaptativa. Darwin nem se interessou tanto pelos tentilhões a ponto de não tê-los etiquetados identificando devidamente a ilha de origem. Esta evidência somente amadureceu dois anos mais tarde com a ajuda de John Gould, um ornitólogo e taxidermista que classificou cientificamente as espécies de tentilhões das ilhas Galápagos. Quem “quebrou o coco epistêmico” de Darwin, o gênio da ciência? Um simples ornitólogo e taxidermista inglês. Parece que li o nome dele, mas não registrei isso em minhas anotações.

NOTA DIGNA DE REPÚDIO:

Em quase todos os infográficos da hágio-exposição Darwin foi apresentado como “o descobridor” da seleção natural.

NADA MAIS ESCANCARADAMENTE FALSO!

O conceito foi abordado primeiramente por Patrick Matthew (“a lei natural de seleção”) em 1831, alguns meses antes da viagem de Darwin ao redor do mundo no Beagle. Matthew não deixou barato não, e foi atrás da “primazia” de ter tido a idéia de seleção natural [2]. Darwin reconheceu isso relacionando Matthew e mais 34 autores no Esboço Histórico na 3ª. edição do seu Origem das Espécies, mas não vi essa menção de Matthew na hágio-exposição.

Edward Blyth, um criacionista [argh, isso é como cometer assassinato intelectual] publicou três artigos em 1836 introduzindo o conceito de seleção natural. Hoje chamada de “seleção estabilizadora”. [3] Engraçado, Blyth fez parte do “círculo íntimo de Darwin”, mas não foi mencionado na hágio-exposição. Por que esta flagrante e interessante omissão? Quem será o Mister X de Darwin? Blyth, um criacionista? Darwin um reles plagiador de idéias dos outros???

Muito antes de Darwin “pensar” “a idéia mais brilhante que a humanidade já teve” [menos, Dennett, menos, da próxima vez você fica de castigo por contar lorotas] Robert Chambers, autor do best-seller Vestiges of the Natural History of Creation, apresentou um argumento forte, estritamente naturalista da evolução com os humanos descendendo dos primatas. Vendeu 26.000 exemplares no Reino Unido entre 1844 e 1860. Foi traduzido para o alemão e holandês. Foi um sucesso de vendas nos Estados Unidos. O livro de Chambers despertou a “fúria denuncista” de cientistas e teólogos que, pasmem, replicaram com um misto de teologia natural.

OUTRA NOTA DIGNA DE REPÚDIO:

O livro de Chambers foi mencionado somente para desconsiderá-lo como “um livro especulativo”, e destacando en passant a sua popularidade. Vestiges teve muita influência na Inglaterra vitoriana, e tão-somente agora os historiadores da ciência estão reconhecendo isso: a aceitação cultural ampla da idéia da evolução como apresentada em Vestiges. A hágio-exposição simplesmente ignorou este marco histórico para o avanço das idéias evolutivas. Esta negligência está sendo corrigida. [4]

Bem antes de Darwin, Wallace publicou em 1855 um ensaio sobre a distribuição geográfica das espécies que implicava fortemente em evolução. Ele a tornou mais explícita no ensaio que enviou para Darwin em 1858. O conceito de seleção natural exposto por Wallace era parecido com o de Darwin, que temeu pela sua “originalidade de idéia” ter sido destruída.

A história foi fielmente contada: os amigos influentes de Darwin [é gente, o famoso “quem tem QI” — quem indica já funcionava na Akademia em 1858] conseguiram que os ensaios fossem apresentados em conjunto na Linnean Society como co-descobridores da seleção natural, mas a primazia ficou com Darwin, que tinha mais “amigos QIs influentes” e não era de origem pobre como Wallace. A hágio-exposição nauseabundamente proclamou nos infográficos que Darwin teve “a idéia mais brilhante que a humanidade já teve” [Dennett, menino abusado, você vai escrever 100 vezes “Eu não vou mentir mais em nome da ciência”]: o descobridor da seleção natural.

NADA MAIS FALSO!

A idéia de “evolução” já era assunto corriqueiro em círculos intelectuais progressistas em boa parte da Europa, Estados Unidos, Rússia e Japão. [5]

Vide os livros sobre a obra de Darwin, sua vida, seu ambiente cultural, e os inúmeros evolucionistas “desconhecidos” cujas idéias evolucionistas foram reconhecidas tardiamente por Darwin no seu esboço histórico publicado a partir da 3ª. edição do Origem das Espécies:

HULL, David, (Ed.) (1983). Darwin and his Critics: The Reception of Darwin’s Theory of Evolution by the Scientific Community. Chicago, University of Chicago Press.

GLICK, T. F., (Ed.) (1988). The Comparative Reception of Darwinism. Austin, University of Texas Press.

KOHN, D., Ed. (1988). The Darwinian Heritage. Princeton, Princeton University Press.

HODGE, J. e RADICK, G., (Eds.). (2003). The Cambridge Companion to Darwin. New York, Cambridge University Press.

II. A evolução por seleção natural é “a fundação para toda a biologia moderna”, e que Darwin “lançou as bases da ciência da biologia moderna”.

A Nomenklatura científica e a Grande Mídia internacional e tupiniquim “bombardeiam” os leitores não-especializados com a idéia de que o Origem das Espécies “revolucionou” as ciências biológicas ao introduzir novos princípios estritamente materialistas. Será?

NADA MAIS ESCANCARADAMENTE FALSO!

Por quê? Porque as ciências biológicas da época já eram, NOTA BENE, já eram mecanicistas e experimentais antes de Darwin, o homem que teve “a idéia mais brilhante que a humanidade já teve” [Dennett, você não tem jeito, menino]. QED, as investigações naturalistas de Darwin, que não eram assim uma Brastemp em termos epistemológicos, não contribuíram significantemente para a biologia experimental do seu tempo.

Na louvaminhice da hágio-exposição “Darwin”, os alunos do ensino fundamental e médio e os leigos não-especializados foram “doutrinados” que a evolução pela seleção natural é “a base de toda a biologia moderna”, e que Darwin lançou “fundou a ciência biológica moderna”. Há controvérsias. A primeira afirmação é uma tese filosófica fácil de refutar: os avanços da ciência, especialmente da Biologia, demonstram que a evolução pela seleção natural não pode mais ser a base de toda a biologia, tanto é que há diversos mecanismos evolutivos propostos, de A a Z.

A segunda afirmação é histórica, minha praia intelectual. Darwin não lançou a base da ciência biológica moderna pelo amadorismo de sua praia intelectual: ele foi um mero naturalista curioso. Fica fácil chegar a esta conclusão contrastando as contribuições de Darwin e de outros cientistas de sua época:

Louis Pasteur (1822-1895) praticava biologia laboratorial focalizando em biologia celular, microbiologia, bioquímica e neurologia utilizando equipamentos e técnicas experimentais sempre inovadores. A ciência biológica “dura” de Pasteur nos deu inovações práticas e benéficas: vacinação, práticas sanitárias, e a célebre pasteurização do leite.

QED: Pasteur não lançou mão da “idéia mais brilhante que a humanidade já teve” para fazer ciência e nem realizar pesquisas, ele não as considerava relevantes para sua área científica. Este cientista nada escreveu sobre evolução, e não incluiu um único componente evolutivo no Instituto Pasteur.

Além disso, Pasteur refutou a geração espontânea de vida, um aspecto relevante para os princípios evolutivos. As opiniões de Darwin sobre a abiogênese eram vagas e sem embasamento com a evidência experimental. [6]

O que dizer então do maior cientista alemão da época, Rudolph Virchow, patologista celular e o mais experiente da ciência médica? Ele se opôs veementemente às tentativas de Ernst Haeckel “darwinizar” a ciência biológica na Alemanha.

Não podemos ignorar o embriologista Wilhelm Hiss que criticou em bases científicas a tese de Ernst Haeckel: a ontogenia recapitula a filogenia. O que dizer de Pierre Paul Broca (1824-1880), neurologista francês? E o anatomista Claude Bernard (1813-1878), considerado “o pai da fisiologia”?

UMA NOTA DE GRANDE REPÚDIO

Quem é mais cientista — Mendel ou Darwin? A hágio-exposição “Darwin” afirmou que a “pesquisa de Darwin com plantas demonstrou o poder da evolução por seleção natural.

NADA MAIS ESCANCARADAMENTE FALSO!

As experiências de Gregor Mendel (1822-1884) com as ervilhas Pisum savtivum e a elaboração de suas leis quantitativas de segregação e variação independente, é um exemplo-mor ilustrativo da grande diferença que existe entre as investigações realizadas por um cientista que pratica “ciência dura”, e as investigações de um naturalista redundando em especulações transformistas.

Tanto Darwin como Mendel realizaram experiências científicas. Darwin realizou experimentos botânicos e cruzou pombos, contudo, seus experimentos objetivaram tão-somente mecanismos que já eram conhecidos e bem-estabelecidos na literatura especializada da época. QED: Darwin não descobriu nenhum novo mecanismo evolutivo. A sua teoria de herança, a Pangênese, não era original e no contexto de justificação se demonstrou falsa.

Você está sentado? E o coração como está? Está de bem com a vida? Prepare-se que lá vem uma bomba epistemológica: A pesquisa clássica de Mendel não menciona nenhuma hipótese evolutiva, e ele acreditava que a sua prova de herança particular refutava a pressuposição gradualista de Darwin. [7]

NOTA DE GRANDE REPÚDIO:

A única descoberta científica importante de leis biológicas quantitativas feita no século 19 foi INTENCIONALMENTE IGNORADA para dar espaço à louvaminhice de que Darwin realizou a maior de todas as descobertas de leis ou princípios evolutivos: a seleção natural.

Uma leitura e análise objetiva dos experimentos de Darwin com o propósito de se estabelecer a verdade científica demonstrará que ele apenas descobriu uma grande variedade de adaptações, e fez muitas sugestões (até prosaicas) sobre as supostas relações filogenéticas, mas não provou uma só filogenia ou um único caso de especiação. [8]


OUTRA NOTA DE GRANDE REPÚDIO:

A hágio-exposição “DARWIN” ignorou a teoria da Pangênese quanto à sua influência nos pontos de vista de Darwin que esposou uma forma de lamarckismo substancial nas 5ª. e 6ª. edições do Origem das Espécies, especialmente na sua réplica às críticas de Mivart à sua teoria da seleção natural. O distanciamento de Lamarck foi feito com a afirmação ousada de que “Charles Darwin ofereceu ao mundo uma única e simples explicação científica para a diversidade da vida na Terra: evolução pela seleção natural.”

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Sobre os ombros de um gigante darwinista honesto, desiludido com esse OBA-OBA e culto à personalidade de Darwin, mas que apesar disso continua evolucionista.

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NOTAS

1. CORSI, P. (1988b). The Age of Lamarck: Evolutionary Theories in France 1790-1830. New York, Cambridge University Press.

2. DEMPSTER, W. J. (1996). Evolutionary Concepts in the Nineteenth Century: Natural Selection and Patrick Matthew. Edinburgh, Pentland Press.

3. EISELEY, L. (1979). Darwin and the Mysterious Mr. X. New York, Dutton.

4. SECORD, J. A. (2000). Victorian Sensation: The Extraordinary Publication, Reception, and Secret Authorship of Vestiges of the Natural History of Creation. Chicago, University of Chicago Press.

5. DARLINGTON, C. D. (1960). Darwin’s Place in History. Oxford, Blackwell; HIMMELFARB, G. (1968). Darwin and the Darwinian Revolution. New York, Norton. KOHN, D., Ed. (1988). The Darwinian Heritage. Princeton, Princeton University Press. MOORE, James R. (1991). Deconstructing Darwinism: The politics of evolution in the 1860s. Journal of the History of Biology, 24, 353-408.

6. BROWNE, J. (2002). Charles Darwin: The Power of Place. New York, Knopf.

7. BISHOP, B.E. (1996). Mendel’s opposition to evolution and to Darwin. Journal of Heredity 87, 205-213.

8. LEACH, C. R. and MAYO, O. (2005). Outbreeding Mechanisms in Flowering Plants: An Evolutionary Perspective from Darwin Onwards. Stuttgart, Gebr. Borntraeger.