Pra que esses ouvidos "avançados" em amniotas permianos?

quarta-feira, setembro 19, 2007

Na estória do Chapeuzinho Vermelho, tem uma hora que a menina pergunta à sua avozinha (nós sabemos que era o Lobo Mau): “Vovó, pra que essas orelhas tão grandes?” A avô (na verdade o Lobo Mau) respondeu: “São pra te ouvir melhor!” Eu não sei por que, mas ao ler este artigo do meu bom amigo David Tyler, eu me lembrei justamente desta estória da carochinha...

Percepção sensorial avançada em amniotas permianos 18/09/2007

“Há vários anos atrás, Jennifer Clack, paleontóloga da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, propôs que a audição evoluiu [no Mesozóico] para ajudar os vertebrados a apanharem os insetos zunidores que estavam passando por uma explosão evolutiva naquele tempo.” Todavia, um relatório acabou de ser publicado demonstrando a presença de verdadeiros ouvidos timpânicos em répteis do período Permiano, reputados como sendo 60 milhões de anos mais antigos, quando “os insetos zunidores não eram tão predominantes.”



“Os pesquisadores foram capazes de identificar seis espécies aparentemente proximamente relacionadas, todas elas mostram evidência nítida de grandes estruturas tipo tímpano cobrindo muito de suas faces. Nos espécimes melhor preservados, foram encontrados ossos do ouvido interno semelhantes àqueles de ouvidos modernos, inclusive um estribo.”



Os pesquisadores “examinaram o desempenho funcional desta única e inesperada disposição auditiva, e descobriram que esses pequenos répteis foram capazes de ouvir pelo menos tão bem quanto um moderno lagarto.” Novos dados como este é um estímulo para novas hipóteses, e os autores sugeriram “que o sentido auditivo pode ter surgido entre os vertebrados que viveram em nichos pouco iluminados.”

Em vez de discutirem a tendência darwinista de explicar as origens via seleção para funcionalidade (ouvir insetos zunidores aumenta a sobrevivência/ouvir permite caçar à noite, e aumenta a sobrevivência), eu quero chamar a atenção para o aparecimento bem cedo de todos os órgãos complexos importantes: “Lá pelo final do Paleozóico muitas das importantes características adaptivas caracterizando a evolução dos amniotas tinham evoluído; exemplos importantes incluem a capacidade de voar, um estilo de vida aquático secundário, e a alta alimentação herbívora.

A descoberta de um aparato auditivo altamente evoluído em para-répteis do Permiano médio enfatiza ainda mais que todo o projeto fundamental para a impressionante história evolutiva dos amniotas já estava amplamente situado no final do Paleozóico; e o que se seguiu foi, na verdade, somente uma bricolagem subseqüente de invenções antigas.”

O darwinismo precisa de tempo, mas o registro fóssil não fornece mais. A complexidade surge abruptamente e a maioria das variações subseqüentes são adaptações. Seja bem-vindo o dia em que os teóricos evolucionistas considerarem que a origem da complexidade e da “bricolagem subseqüente” são duas questões distintas a serem consideradas.

Impedance-Matching Hearing in Paleozoic Reptiles: Evidence of Advanced Sensory Perception at an Early Stage of Amniote Evolution [Download gratuito: ± 400KB]
Johannes Muller, Linda A. Tsuji
PLoS ONE, 2007, 2(9): e889. doi:10.1371/journal.pone.0000889

Background: Insights into the onset of evolutionary novelties are key to the understanding of amniote origins and diversification. The possession of an impedance-matching tympanic middle ear is characteristic of all terrestrial vertebrates with a sophisticated hearing sense and an adaptively important feature of many modern terrestrial vertebrates. Whereas tympanic ears seem to have evolved multiple times within tetrapods, especially among crown-group members such as frogs, mammals, squamates, turtles, crocodiles, and birds, the presence of true tympanic ears has never been recorded in a Paleozoic amniote, suggesting they evolved fairly recently in amniote history.

Conclusions/Significance: Using modern amniotes as analogues, the possession of an impedance-matching middle ear in these parareptiles suggests unique ecological adaptations potentially related to living in dim-light environments. More importantly, our results demonstrate that already at an early stage of amniote diversification, and prior to the Permo-Triassic extinction event, the complexity of terrestrial vertebrate ecosystems had reached a level that proved advanced sensory perception to be of notable adaptive significance.

Vide também:

Balter, M., Let's Hear It for the First Ears, ScienceNOW Daily News, 12 September 2007.

Prehistoric Reptiles From Russia Possessed The First Modern Ears, Science Daily, September 12, 2007.

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Reflexões céticas cum granum salis deste artigo:

O ponto principal deste artigo da PLoS ONE é de que os ouvidos modernos não são “tão modernos” assim — eles datam de 260 milhões de anos. A equipe de pesquisadores ficou surpresa em descobrir que este fóssil de réptil encontrado na Rússia, tinha ouvidos funcionais com impedância, uma novidade que segundo o paradigma darwinista deveria ter evoluído 50 milhões de anos depois.

O que é impressionante, e o leitor leigo não se apercebe disso: os jornalistas científicos da Grande Mídia científica tupiniquim e internacional não destacam como que, de algum modo esta inovação sobreviveu a um dos maiores eventos de extinção na escala evolutiva: a extinção Permo-Triássica. Nem questionaram os pesquisadores, como que esta inovação foi reinventada mais tarde, quatro vezes, e em quatro grupos diferentes.

Exemplo desse jornalismo científico fajuta foi o resumo feito pela National Geographic News.

Sobre a significância de sua descoberta os autores disseram:

“Usando amniotas modernos como análogos, a posse de um ouvido médio que detecta impedância nesses para-répteis sugere adaptações ecológicas únicas potencialmente relacionadas à vida em ambientes de pouca luz. Mais importante, os nossos resultados demonstram que já num estágio anterior de diversificação amniota, e antes do evento da extinção Permo-Triássica, a complexidade dos ecossistemas de vertebrados terrestres tinha alcançado um nível que provou que a percepção sensorial avançada foi de notável significância adaptiva.”

Mano, o que é estranho em toda esta história, é que o comunicado é sobre evolução, mas onde está a “vera causa” da evolução? Uma lida en passant do artigo mostra que a palavra “evoluiu” aparece em formas lingüísticas interessantes: “parecem ter evoluído”, “sugerindo que eles evoluíram”, “alguma indicação de que um ouvido timpânico tinha evoluído”, “não era considerado como tendo evoluído até o Mesozóico”, “uma novidade evolutiva que era crida como tendo evoluído até esse ponto”, “assumida como não tendo evoluído até o Mesozóico”, etc.

Caracas meu, em nenhuma instância do artigo os autores explicaram COMO um sistema de ouvido médio com reconhecimento de impedância evoluiu. Eles simplesmente assumiram que foi assim, isto é, Abracadabra, Alakazam, presto: evoluiu. Eles se mostraram “surpresos” que isso “evoluiu” tão cedo.

Vamos ver agora como os “procedimentos” dos autores nos ajudam a entender a “vera causa” dos processos que demonstram o fato, Fato, FATO da evolução:

“A evolução de um ouvido médio com reconhecimento de impedância dentro dos Amniota tem sido interpretada como tendo ocorrido junto com a diversificação dos insetos modernos, que atingiu o seu pico no Mesozóico, indicando que o som zunidor dos insetos voadores teria favorecido a evolução de um sentido auditivo avançado...
A descoberta de um aparato auditivo altamente evoluído em para-répteis do Permiano médio enfatiza ainda mais que todo o projeto fundamental para a impressionante história evolutiva dos amniotas já estava amplamente situado no final do Paleozóico; e o que se seguiu foi, na verdade, somente uma bricolagem subseqüente de invenções antigas.”

Não contente com as declarações dos autores desta pesquisa, o artigo da National Geographic citou a Robert Reisz, da Universidade de Toronto: “O aspecto mais interessante aqui é que esta é a evidência mais nítida de um sistema auditivo altamente evoluído.” Evoluiu de uma vez? Repare que o artigo da National Geographic fez uma afirmação ainda mais atordoante: o ouvido avançado apareceu múltiplas vezes independentemente: “Muller, o principal autor da pesquisa acredita que os para-répteis foram extintos, e que os ouvidos modernos evoluíram independentemente em mamíferos, aves, lagartos, e sapos.”

“Pra que servem esses ouvidos tão modernos em amniotas do Permiano?” Para ouvir, pois a evolução é mais inteligente do que você, idiota!

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Sobre os ombros de dois gigantes.