O peso epistêmico das fezes no contexto de justificação teórica

sexta-feira, abril 04, 2008

Marcas dos primeiros americanos

04/04/2008

Agência FAPESP – Quem foram e quando viveram os primeiros americanos? Até há alguns anos, a maioria dos arqueólogos colocava suas fichas na cultura Clóvis, que teria dado origem a todas as demais culturas no continente.

A cultura Clóvis leva o nome de um sítio arqueológico no Novo México, nos Estados Unidos, em que foram encontrados na década de 1920 artefatos produzidos há cerca de 11.500 mil anos. Os achados, principalmente pedras lascadas usadas em lanças, levaram à construção do modelo Clóvis-primeiro, segundo o qual uma única leva de indivíduos que cruzou o estreito de Bering, entre o Alasca e a Sibéria, teria iniciado o povoamento das Américas. Mas, recentemente, essa teoria tem sido cada vez mais abandonada, a partir da evidência de povoamentos anteriores.

Um novo golpe na teoria acaba de ser dado nesta quinta-feira (3/4) na edição on-line da revista Science. Um grupo internacional de pesquisadores descreve em artigo a descoberta de coprólitos (fezes fossilizadas) humanos com idade estimada em 14.300 anos.

Fezes fossilizadas de 14.300 anos são encontradas em caverna no Oregon, na mais antiga evidência humana nas Américas (foto: Science)

Encontrados em uma caverna no Oregon, os croprólitos são pelo menos 1.000 anos mais antigos do que a estimativa do surgimento da cultura Clóvis. Isso levando em conta não os 11.500 mil anos que se achava até há pouco, mas a reavaliação feita pelos norte-americanos Thomas Stafford e Michael Waters que, em artigo publicado em 23 de fevereiro de 2007 também na Science, estimaram que a cultura teria se originado entre 13.200 e 12.900 anos atrás.

Entre os autores do novo artigo está Dennis Jenkins, do Museu de História Natural e Cultural da Universidade do Oregon, que liderou as expedições em 2002 e 2003 que levaram à descoberta de 14 amostras de fezes fossilizadas.

Ao grupo de juntou diversos outros cientistas, como Eske Willerslev e Thomas Gilbert, da Universidade de Copenhague, na Dinamarca. Os dois extraíram DNA mitocondrial humano de seis das amostras e identificaram assinaturas genéticas típicas de índios americanos dos haplogrupos A2 e B2, comuns na Sibéria e no leste da Ásia.

Dois laboratórios especializados em DNA antigo trabalharam independentemente nas datações por carbono radioativo feitas nas amostras e concluíram que pelo menos três delas tinham mais de 14 mil anos.

Os autores do artigo também testaram as amostras em busca de proteínas humanas, de modo a afastar a hipótese de que os coprólitos pudessem ter sido contaminados. Em três amostras testadas, duas apontaram proteínas com mais de 14 mil anos.

Para Waters, a nova descoberta aponta para uma presença humana no continente há pelo menos 15 mil anos. “O argumento Clóvis-primeiro está totalmente morto, mas nosso conhecimento do que veio antes continua muito escasso”, disse Jon Erlandson, da Universidade do Oregon, em comentário na Science.

O artigo DNA from pre-Clovis human coprolites in Oregon, North America, de M.Thomas Gilbert e outros, pode ser lido por assinantes da Science em http://www.sciencemag.org.