Darwin cum granum salis

segunda-feira, julho 21, 2008

O Diogo Meyer bem que poderia ter se concentrado mais nas contestações fundamentais da Teoria da Evolução por meio da Seleção Natural de Darwin no atual contexto de justificação teórica. Darwin passaria no teste?

Leia o artigo de Meyer sobre Darwin e sua teoria da evolução cum granum salis. Por que ele não abordou sobre a nova teoria da evolução que está sendo elaborada? Síntese Moderna Ampliada, uma teoria evolutiva não selecionista.

Afinal de contas, Darwin mesmo escreveu que as suas conclusões eram passíveis de outras interpretações, e que os argumentos a favor e contra deveriam ser considerados. Está lá no Origin of Species...

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JC e-mail 3558, de 21 de Julho de 2008.

9. Darwin: 150 anos depois, comprovações e contestações feitas à Teoria da Evolução
"Na época, a academia não deu muita bola. Não acharam que tinha um impacto muito relevante. Foi a publicação do livro de Darwin 'A origem das espécies', com sua teoria completa, em novembro de 1859, que teve um impacto profundo sobre o pensamento evolutivo", diz professor da USP

Daniela Amorim escreve para o "JC e-mail":

Em meio às comemorações pelo 150º aniversário de publicação da teoria da evolução, de Darwin e Wallace, a 60ª Reunião Anual da SBPC recebeu Diogo Meyer, do Departamento de Genética e Biologia Evolutiva da USP, com a missão de apresentar os caminhos abertos na Ciência por Charles Darwin e os rumos que as pesquisas científicas tomaram desde então.

Charles Darwin nasceu em fevereiro de 1809 e já na década de 40 escrevia cartas aos amigos com as primeiras conclusões de sua teoria da evolução. Em 1958, publicou oficialmente seus achados pela primeira vez, em parceria com Alfred Russel Wallace.

"Na época, a academia não deu muita bola. Não acharam que tinha um impacto muito relevante. Foi a publicação do livro de Darwin 'A origem das espécies', com sua teoria completa, em novembro de 1859, que teve um impacto profundo sobre o pensamento evolutivo", disse Diogo Meyer.

Segundo o pesquisador, alguns legados de Darwin estão vivos e fortes, como o princípio da seleção natural, o uso da árvore como metáfora, a descendência com modificações e a distribuição geográfica. Mas há idéias da teoria desafiadas pela Ciência de hoje.

"As pesquisas atuais desafiam a generalidade da seleção natural, além da universalidade da árvore como metáfora. No caso de trabalhos com bactérias, talvez o melhor caminho seja a idéia de uma rede. Também há contestações sobre a visão de que as mudanças são quase sempre casuais. Alguns fósseis encontrados sugerem que algumas mudanças possam ter sido súbitas", contou o pesquisador.

No debate sobre a existência de uma rede, e não de uma árvore evolutiva, pesquisadores usaram o seqüenciamento genético para detectar similaridades entre espécies distintas.

"A metáfora da árvore continua aceita, mas não para todos os domínios da vida. Tem genoma de ameba que aparece com um pedaço de genoma de bactéria. Há bactérias que compartilham pedaços de genoma, o que sugere algum cruzamento em algum momento", explicou Meyer.

As pesquisas genéticas não servem apenas para contestar, mas também para corroborar partes da teoria da evolução. Algumas comprovam a teoria da distribuição geográfica estudando os genes de animais.

"A biogeografia aliada à genética é uma área vibrante na genética atual. Pesquisas genéticas sobre o parentesco entre espécies espalhadas por uma região geográfica comprovam a origem em comum. Resta aos pesquisadores montar um quebra-cabeça para descobrir como ocorreu a distribuição", afirmou o professor da USP.

"Darwin não sabia sobre o movimento das placas tectônicas e por causa desse movimento algumas famílias estão espalhadas pelo mundo todo. Os marsupiais, por exemplo, ocorrem na América e na Austrália. Escavações já detectaram fósseis de marsupiais na Antártica, sugerindo que, durante a Pangéia, eles teriam passado da América à Austrália, sobrevivendo mesmo depois da separação dos continentes".

Diogo Meyer disse que, graças aos recursos disponíveis hoje, a origem da variação genética é bem compreendida. Mas ainda há muito no que se aprofundar.

"Há muitos estudos sobre os processos que restringem o papel da seleção natural: correlações, desenvolvimento, pleiotropia, epistania. É difícil selecionar um gene com muitas funções e isolar uma dessas funções. Podemos manipular um gene que aumente o crânio e permita o cérebro crescer. Mas esse crânio maior atrapalharia o nascimento do indivíduo na hora do parto. A seleção natural é engessada por diversas coisas. A natureza genética de como o crânio é constituído impede grandes mudanças, por exemplo", ensinou.

Os 200 anos de nascimento de Charles Darwin serão comemorados em 2009, assim como os 150 anos da publicação do livro 'A origem das espécies'.