O verdadeiro ‘longo argumento’ de Darwin no Origem das Espécies

sábado, setembro 27, 2008

Os historiadores da ciência são como detetives: eles seguem as pistas encontradas nos textos científicos, dando valor maior àquelas encontradas nas obras originais dos cientistas (as fontes primárias). Nem sempre as pistas encontradas nas fontes primárias nos levam a uma melhor compreensão da pista deixada pelo cientista. É preciso lançar mão das fontes secundárias.

Eu vou fazer mais uma vez o papel do advogado do Diabo dos ‘fiéis’ de concepções religiosas, e deixar bufando de raiva os ‘fiéis’ de concepções secularizadas que dominam a Nomenklatura científica e ditam o que deve e pode ser discutido na universidade: a realidade se resume somente em matéria, energia e leis naturais num universo ‘fechado’ e refratário a ações ‘externas’ desconhecidas, ainda que sejam naturais.

NOTA BENE: 99.99% dos cientistas, biólogos, professores universitários, nunca leram o Origem das espécies. Segundo Darwin, o livro é “um longo argumento”. Todavia, Darwin não nos diz “sobre o quê” é este seu longo argumento. Sobre a evolução? Seria chover no molhado, pois a idéia da evolução não é original em Darwin (apesar da louvaminhice de exposições e relatos na Grande Mídia ‘sacramentados’ e com o ‘nihil obstat’ da Nomenklatura científica). Sobre a seleção natural? Sinto muito, mas Darwin vai desapontar a galera dos meninos e meninas de Darwin, pois ele fez questão de deixar bem claro na introdução do Origem das espécies (desde a 1ª. edição - 1859) de que estava convencido ser a seleção natural “o mais importante, mas não exclusivo, meio de modificação.”

Ora, se o ‘longo argumento de Darwin’ não é sobre a evolução, nem sobre a seleção natural, sobre o quê seria este ‘longo argumento’? A idéia não é original deste blogger. Eu li em algum lugar uns anos atrás num pequeno livro de autor desconhecido na literatura histórica ‘mainstream’ [é mais chique do que ‘de ponta’, ‘consensual’ — esta última eu abomino por ser subserviente ao ‘discurso único’ que eu chamo aqui de ‘síndrome dos soldadinhos-de-chumbo’ para dizer que todo mundo está pensando a mesma coisa e ninguém pensando em nada original]. A idéia proposta por ele é que ‘o longo argumento’ de Darwin no Origem das espécies era “teológico”.

NOTA BENE: O ‘longo argumento’ de Darwin na sua magnum opus não é um longo argumento científico, mas seria um longo argumento teológico. Para facilitar a nossa investigação, vamos considerar a pista encontrada numa fonte secundária de autor renomado: Ernst Mayr, o ‘papa’ da evolução do século 20 e início do século 21. Na introdução ao Origin of species editada pela Harvard University Press, lemos:

“Na época de Darwin a explicação para a diversidade orgânica predominante era a história da criação em Gênesis. O próprio Darwin defendia isto quando embarcou no ‘Beagle’, e ele se converteu [SIC] às suas novas idéias somente depois de ter feito numerosas observações que foram para ele bem incompatíveis com a criação. Ele percebeu nitidamente que precisava estabelecer este ponto resolutamente antes que os seus leitores ficassem querendo ouvir a interpretação evolucionária. Repetidamente ele descreve fenômenos que não se encaixam com a teoria [SIC ULTRA PLUS] da criação.” [1]

PERGUNTA IMPERTINENTE DESTE BLOGGER que a Nomenklatura científica não permite que professores e alunos façam nas universidade públicas e privadas: Como foi possível para Darwin, o ‘homem que teve a maior idéia que a humanidade já teve’ [menos, Dennett, menos], fazer isto ‘repetidamente’ se ‘a teoria da criação’ [apud Mayr acima] é uma teoria baseada em forças que dá a entender a ação de forças externas à natureza que não podem ser empiricamente testadas???

Fica aqui lançado o desafio para qualquer acadêmico ou cientista tupiniquim dar uma resposta epistemicamente satisfatória para esta pergunta. Se aparecer um com uma resposta heuristicamente suficiente com revisão por pares [peer review é mais chique], eu enfio a minha viola no saco e deixo de contestar a Darwin. Gente, a base heurística da teoria da evolução é baseada em contraposição a uma teoria que não pode ser empiricamente verificada. Durma-se com um barulho desses, pois Mayr afirmou que Darwin fez isso ‘repetidamente’ no Origem das espécies. Isso agora é ciência? A maior idéia que a humanidade já teve???

É impressionante que a Nomenklatura científica tem desafiado empiricamente este ou aquele aspecto da teoria do Design Inteligente nesta base: a TDI, em princípio, não é empiricamente testável. E a descendência com modificação, base fundamental da teoria geral da evolução de Darwin é empiricamente testável? “Nullius in verba”, menos Darwin, capice? Tutti cosa nostra, il bambino de Down.

Como dizia minha mãe, pimenta nos olhos dos outros é colírio, pra não dizer outra coisa e ferir os pruridos de almas sensíveis.

Eu não sei qual será a reação da Nomenklatura científica, mas eu estou convencido da veracidade desta tese levantada por aquele autor desconhecido pela historiografia ‘mainstream’. A minha convicção é baseada no exame cuidadoso do argumento mais comum de Darwin encontrado no Origem das espécies — a descendência com modificação é um fato científico verdadeiro porque os fatos da natureza “são inexplicáveis pela teoria da criação”:

Cap. II (p. 50), Cap. IV (p. 99), Cap. V (p. 105, 113, 115, 117, 122), Cap. VI (p. 132, 141, 143-144, 147, 150), Cap. VIII (p. 208), Cap. IX (p. 231), Cap. XII (p. 281-284, 290, 293), Cap. XIII (p. 304-305, 307-308, 310, 314), Cap. XIV (p. 323, 335-336, 350), e Cap. XV (p. 360-363, 365-367, 369). [2]

QED, oops, elementar meu caro Watson [detetive Sherlock Holmes]: O ‘longo argumento’ exarado por Darwin no Origem das espécies é, para desespero da Nomenklatura científica, um ‘longo argumento teológico’.

A ciência é a busca pela verdade, aonde ela for dar, e as verdadeiras mentes científicas somente se submetem à suficiência das evidências corroborando ou não uma teoria científica.

Mijar fora deste caco, não é ciência, é materialismo/naturalismo filosófico mascarado de ciência. O pior de tudo é que isso é feito com o nosso suado dinheirinho dos impostos pagando os salários e as pesquisas da tropa de choque da Nomenklatura científica.

NOTAS:

1. DARWIN, Charles. Origin of species. Londres, John Murray, 1859; reimpressão fac-similar, Cambridge, Harvard University Press, 1964, p. xii: “In Darwin's day the prevailing explanation for organic diversity was the story of creation in Genesis. Darwin himself had subscribed to this when he shipped on the 'Beagle,' and he was converted to his new ideas only after he had made numerous observations that were to him quite incompatible with creation. He felt strongly that he must establish this point decisively before his readers would be willing to listen to the evolutionary interpretation. Again and again, he describes phenomena that do not fit the creation theory.”

2. Edição de Modern Library, 6ª. edição do Origin of species, reimpressão.