Louvaminhando Darwin de calça curta

segunda-feira, janeiro 19, 2009

+Marcelo Gleiser

Professor de física teórica no Dartmouth College, em Hanover (EUA), e autor do livro "A Harmonia do Mundo".

Celebrando (o estudo d)a vida

Folha de São Paulo, 18 de janeiro de 2009.

Antes da teoria da evolução, não se podia explicar a diversidade

No início do ano, escrevi sobre a festa dos céus, o Ano Internacional da Astronomia, que será celebrado durante 2009 pelo mundo afora. Só o congresso da União Internacional da Astronomia reunirá cerca de 6 mil astrônomos no Rio em agosto. Mas essa não é a única festa da ciência neste ano. A biologia também tem muito o que celebrar. Este é o ano do bicentenário do nascimento de Charles Darwin e o 150 anos da publicação de seu livro revolucionário "A Origem das Espécies", onde o naturalista elaborou os princípios de sua teoria da evolução das espécies.

+++++

NOTA 1 PARA GLEISER:

A teoria da evolução não é somente de Charles Robert Darwin. Ela é também de Alfred Russel Wallace. Estranhamente Wallace está sendo esquecido das celebrações de louvaminhice, beija-mão e beija-pé de Darwin.

"Origem das Espécies", livro revolucionário??? Bem, foi este o "mito" que a Nomenklatura científica nos impingiu por décadas. Gleiser, dê uma olhada aqui neste artigo onde um historiador de ciência especialista em Darwin, detonando mais este mito sobre o guru de Down.

Dr. John van Wyhe é responsável em Cambridge pela divulgação da obra de Darwin.

+++++

Poucos nomes na história da ciência são tão celebrados quanto Darwin. O que Galileu, Newton e Einstein representam para a física, Dalton e Lavoisier para a química, Darwin representa para a biologia.

+++++

NOTA 2 PARA GLEISER:

Querer equiparar as especulações de Darwin com a grandeza científica de Galileu, Newton, Einstein, Dalton e Lavoisier é forçar demais a barra. Esses elaboraram teoria e experimentos que são corroborados no contexto de justificação teórica pelas evidências. Aquele, não pode nem predizer como se dará a evolução daqui a um nanosegundo. Uma teoria que se não for o mecanismo X então Y; se não for Y então Z; se não for Z então todo o ABC, não é assim uma Brastemp, oops grandeza científica a ser exageradamente celebrada.

+++++

Antes dele, não haviam explicações plausíveis para a incrível diversidade da vida que vemos na natureza, de micróbios unicelulares, plantas e peixes aos insetos, aves e mamíferos. No mundo ocidental, a explicação aceita era bíblica: Deus criou a vegetação no terceiro dia, os peixes e as aves no quinto, e os animais terrestres e o homem no sexto. Mesmo que fósseis de animais estranhos (leia-se dinossauros e mamíferos terrestres agigantados) fossem conhecidos, o argumento para a sua ausência invocava o Dilúvio e a Arca de Noé. Pelo jeito, os monstros não foram bem recebidos no grande barco. Talvez alguns teólogos oferecessem razões mais sofisticadas, mas essa era a opinião de muitos.

+++++

NOTA 3 PARA GLEISER:

Que a teoria geral da evolução de Darwin é uma explicação plausível para a “incrível diversidade da vida” ninguém discute. Gleiser deveria saber melhor que plausibilidade teórica não é o mesmo que plausibilidade físicoquímica [será que grafei certo pela nova ortografia???]. Pelo andar da carruagem da ciência moderna, a plausibilidade físicoquímica não tem corroborado as especulações macroevolutivas de Darwin.

+++++

De todas as suas características, as que Darwin mais celebrava eram a meticulosidade e a capacidade de perceber detalhes quando outros não os viam. Quando jovem, atravessou o mundo no navio Beagle, colhendo espécies diversas da flora, passando horas observando o comportamento da fauna local, colecionando fatos e anotações. Ficou muito impressionado com a beleza do Brasil.

+++++

NOTA 4 PARA GLEISER:

Nas ilhas Galápagos as características de Darwin mais celebradas de “meticulosidade” e “capacidade de perceber detalhes” que outros não viam, é uma história mal contada. Os famosos tentilhões de Darwin: nosso meticuloso observador passou batido. Foi John Gould, ornitólogo inglês, que catalogou as espécies, pois Darwin não tinha competência nesta área. Recentemente uma espécie de iguana rosada foi também anunciada como tendo sido omitida pelo homem que teve a idéia mais brilhante que toda a humanidade já teve [esse guri ranheta do Dennett não larga o meu pé.

Onde então a "meticulosidade" e "capacidade de perceber detalhes" que outros mortais não viam??? Gleiser, menas (obrigado presidente Lula por esta pérola), menas louvaminhice, beija-mão e beija-pé de Darwin, companheiro!

+++++

Sua curiosidade pela riqueza com que a vida se manifestava à sua volta e a paixão pelo conhecimento davam-lhe a infinita paciência necessária para observar as menores variações dentre espécies de acordo com o ambiente e o clima, a importância da geologia na determinação das espécies de uma região, a complexa relação entre a flora e a fauna.

+++++

NOTA 5 PARA GLEISER:

Se o título do livro de Darwin tivesse sido “A Origem das Variações”, ele estaria um pouco melhor servido, pois o livro não explica e nem entrega o que se propôs explicar: a origem das espécies. Por que Darwin estaria um pouco melhor servido? É porque nem explicar as variações Darwin conseguiu. O que ele conseguiu fortalecer nas cinco revisões do "Origem das Espécies" foi uma visão lamarckista e menos darwiniana, pois em todas as revisões Darwin enfraqueceu o poder criativo da seleção natural seu mecanismo evolutivo mais importante, mas não o único.

+++++

Profundamente influenciado pelo geólogo Charles Lyell, que considerava seu mentor, Darwin aos poucos percebeu que tal riqueza nas espécies só poderia ser possível se pequenas variações ocorressem ao longo de enormes intervalos de tempo. A filosofia de Lyell pregava que as rochas terrestres representam a sua longa história, registrando nas suas propriedades as várias transformações que sofreram ao longo dos milênios. Os mesmo processos que sofreram no passado continuam ativos no presente. A partir de suas meticulosas observações, Darwin concluiu que algo semelhante ocorria com os seres vivos; eles também sofriam pequenas modificações ao longo do tempo.

+++++

NOTA 6 PARA GLEISER:

As teses gradualistas de Lyell em geologia já não são assim uma Brastemp e, por incrível que pareça, um tipo de catastrofismo (Argh, isso é como cometer um assassinato epistemológico) já está bem aceito entre as comunidades geológica e paleontológica.

“Filosofia de Lyell”??? Caracas, Gleiser, eu sempre tive esta impressão de que as teses de Lyell eram filosoficamente influenciadas. Vou citar você doravante para respaldar minhas suposições de que a “filosofia” de Lyell exerceu grande influência em Darwin na elaboração de sua teoria da evolução.

+++++

As que facilitavam a sua sobrevivência seriam passadas de prole em prole mais eficientemente, enquanto que aquelas que dificultavam a sobrevivência dos animais seriam aos poucos eliminadas. Com isso, após muitas gerações, a espécie como um todo se alteraria, tornando-se gradualmente distinta de seus ancestrais. A funcionalidade dos bicos de certos pássaros, por exemplo, ilustra bem a adaptabilidade de acordo com o ambiente.

+++++

NOTA 7 PARA GLEISER:

Traduzindo em graúdos: o mais apto sobrevive. Quem sobrevive? O mais apto. Quem é o mais apto? Aquele que sobrevive. Caracas, Gleiser, isso é tautologia, e tautologia nada diz em ciência. Após muitas gerações, presto, Alakazam, oops via seleção natural “a espécie como um todo se alteraria”. Como? E o fator custo-benefício das mutações ocorrendo em um genoma? 300.000 gerações?

Gleiser, a funcionalidade de bico como exemplo de adaptabilidade é uma coisa que ninguém discute, mas isso não corrobora as especulações transformistas de Darwin: um dinossauro se transformar em ave.

+++++

Esse processo de seleção natural forneceu, pela primeira vez na história, um mecanismo racional capaz de explicar a multiplicidade da vida e a sua ligação com o passado.

+++++

NOTA 8 PARA GLEISER:

Desde 1859, Darwin, Hooker, Lyell e até Huxley tinham dúvidas sobre a capacidade criativa da seleção natural “explicar a multiplicidade de vida” e a tese do ancestral comum. Gleiser, você está completamente desatualizado da literatura especializada sobre essas questões. A partir de 2010 nós teremos uma nova teoria da evolução — a Síntese Evolutiva Ampliada — que, dizem as más línguas, não será selecionista.

A Árvore da Vida de Darwin está mais para gramado do que árvore. É, acho que o Gleiser está mais por fora neste assunto do que umbigo de índio.

+++++

O legado de Darwin é, antes de mais nada, uma celebração da liberdade que nos é acessível quando nos dispomos a refletir sobre o mundo em que vivemos.

+++++

NOTA 9 PARA GLEISER:

O legado de Darwin nas mãos da Nomenklatura científica, da qual Gleiser faz parte, não é “uma celebração de liberdade”, antes, é um de caça às bruxas e destruição de carreiras acadêmicas dos críticos e oponentes científicos das especulações transformistas de Darwin.

+++++

Fui, nem sei por que, pensando no meu tempo de guri, jogando fubeca, de estilingue caçando passarinhos, jogando pião. De calça curta...