Ano Darwin na Bahia

quinta-feira, março 26, 2009

JC e-mail 3728, de 25 de Março de 2009

21. Ano Darwin, texto de Charbel Niño El-Hani

“É surpreendente como, diante deste rico legado, a passagem de Darwin pelo Brasil está pouco presente no ensino de Biologia em nosso país”

Charbel Niño El-Hani é professor do Instituto de Biologia da Universidade Federal da Bahia e coordenador científico do Ano Darwin na Bahia. Texto enviado pelo autor ao “JC e-mail”:

No ano de 2009, comemora-se 200 anos do nascimento de Charles Darwin (1809-1882) e 150 anos da publicação de A origem das espécies (1859). Este ano traz a oportunidade, então, de organizar eventos comemorativos que possam contribuir para a melhoria da educação científica, tanto formal quanto não-formal, no que diz respeito ao pensamento evolutivo.

Nosso país teve um papel importante na vida de Darwin, uma vez que o Beagle aqui aportou, por duas vezes, durante a circunavegação realizada nos anos de 1832 e 1836.

Assim, o ano Darwin tem um significado especial para o Brasil, que teve papel relevante no processo formativo deste naturalista de importância fundamental na história da humanidade. É surpreendente como, diante deste rico legado, a passagem de Darwin pelo Brasil está pouco presente no ensino de Biologia em nosso país. A organização de eventos de popularização da ciência oferece excelente oportunidade para mudar este estado de coisas.

No Estado da Bahia, onde Darwin esteve em suas duas passagens pelo Brasil, o ano Darwin está sendo comemorado por uma iniciativa conjunta do governo do estado, através da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (Fapesb), da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação (Secti), da Secretária do Meio Ambiente (Sema) e do Instituto Anísio Teixeira (IAT), da Universidade Federal da Bahia, através dos Programas de Pós-Graduação em Ensino, Filosofia e História das Ciências (UFBA-UEFS) e em Ecologia e Biomonitoramento (UFBA), e da ONG Gérmen. A iniciativa é denominada “Darwin na Bahia”.

As diversas atividades programadas, além de uma série de textos e outros recursos, podem ser encontradas no site http://www.darwinnabahia.ba.gov.br

As atividades incluem uma série de encontros e simpósios, com palestrantes brasileiros e estrangeiros, cuja organização está principalmente sob a responsabilidade da Fapesb, da Secti, do IAT e da UFBA.

Em maio, será realizado no Instituto Anísio Teixeira o Simpósio “Aplicações tecnológicas do pensamento evolutivo: computação bio-inspirada”. Em junho, ocorrerá o Simpósio “Integrando o conhecimento atual sobre evolução”, em local ainda a ser definido. Em outubro, em local a ser definido, ocorrerá o Encontro “Darwin na Bahia”, organizado em torno dos seguintes eixos temáticos: História do pensamento evolutivo; A recepção do Darwinismo no Brasil; O pensamento evolutivo hoje.

Em dezembro, o IAT receberá o Simpósio “O Olhar Estrangeiro sobre o Brasil”. Todos estes eventos estarão voltados para a popularização da ciência, sendo a expectativa dos organizadores que atinja o público escolar (professores e alunos) e geral do estado da Bahia.

Será também realizada uma Feira de Trabalhos Comemorativos do Ano Darwin, na qual equipes de alunos da educação básica, coordenador por seus professores, produzirão redações e projetos de exposição, para apresentação na Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, em outubro. A iniciativa da feira está sendo coordenada pela Fapesb, Secti, IAT e Gérmen.

Planeja-se também a inauguração de monumentos alusivos à passagem do Beagle e de Darwin por Salvador. Um monumento deverá ser instalado na Praça Castro Alves, próximo ao local onde se localizava o Hotel do Universo, onde Darwin ficou hospedado. No Cemitério Britânico, onde estão enterrados dois marinheiros do Beagle, Charles Musters e Boy Jones, serão colocadas placas comemorativas.

O projeto “Darwin na Bahia e a Origem das Espécies” coordenado por mim e por Rejâne Maria Lira da Silva, também do Instituto de Biologia da UFBA, levará a Salvador e a uma série de cidades do interior do estado da Bahia exposições, jogos, peças de teatro e outras atividades sobre Darwin, a viagem do Beagle e o pensamento evolutivo. Estas atividades podem ser conferidas no site http://www.cienciaartemagia.ufba.br/darwinnabahia/

Está sendo também planejado um encontro sobre biodiversidade e sua conservação, coordenado por William Wisden, associado à ONG Gérmen, e Eduardo Mendes da Silva, professor do Instituto de Biologia da UFBA.

Quatro atividades comemorativas do ano Darwin já foram realizadas dentro desta iniciativa. No dia 12 de fevereiro de 2009, uma cerimônia no Cemitério Britânico lançou a iniciativa Darwin na Bahia.

Este evento, idealizado por William Wisden e pela Secretaria do Meio Ambiente do estado da Bahia, incluiu a apresentação do site da iniciativa (http://www.darwinnabahia.ba.gov.br) e o plantio de dois espécimes de árvores da Mata Atlântica ameaçadas de extinção, selecionadas com a ajuda do The Royal Botanical Gardens, Kew e de Jomar Jardim, da Ceplac.

Em 28 de fevereiro, o Farol da Barra recebeu uma série de jogos, atividades e pecas de teatro do projeto “Darwin na Bahia e a Origem das Espécies”. No dia 15 de março, a iniciativa retornou ao Farol da Barra, somando-se desta vez aos jogos, atividades e peças uma exposição sobre Beagle, incluindo uma maquete do famoso navio.

Em 14 de março, por iniciativa da Secretaria do Meio Ambiente e do Gérmen foi realizado um Cortejo Darwiniano, que percorreu as ruas de Salvador, entre o Campo Grande e o Porto da Barra, celebrando a vinda do Beagle e de Darwin a esta cidade e, em particular, o fato de que Darwin vivenciou o carnaval da Bahia.

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NOTA DESTE BLOGGER:

El-Hani é meu amigo, mas eu vou reproduzir o páragrafo dele que o JC E-Mail destacou acima e fazer uma paráfrase e um comentário provocador [no sentido de 'provocar' a discussão que se faz necessária para o ensino de Biologia no Brasil]:

“É surpreendente como, diante deste rico legado, a passagem de Darwin pelo Brasil está pouco presente no ensino de Biologia em nosso país”.

“É surpreendente como, diante das muitas dificuldades encontradas pela teoria da evolução no contexto de justificação teórica desde 1859, o ensino objetivo da teoria de Darwin no Brasil está ausente completamente no ensino de Biologia em nosso país”.

A biologia do século 21 é uma biologia de informação complexa especificada e de complexidade irredutível. Ficarmos 'presos' a um personagem histórico da ciência e a uma teoria científica epistemicamente morta há quatro décadas (o neodarwinismo) em nada ajudará no processo educacional efetivo em Biologia de nossos alunos.

Nós precisamos que a atitude de Eugenie Scott de ensinar a evolução objetivamente incluindo as evidências a favor e contra encontre ressonância no MEC/SEMTEC/PNLEM.