Marcelo Leite (da Folha 'Pravda' de São Paulo) manda recado: crentes em Deus não podem ser candidatos à Presidência do Brasil

segunda-feira, agosto 17, 2009

JC e-mail 3828, de 17 de Agosto de 2009.

21. Candidata verde, artigo de Marcelo Leite

"O projeto para o Brasil não virá de Dilma, Serra ou Ciro. Nem de Marina Silva"

Marcelo Leite é jornalista e autor de "Darwin" (série Folha Explica, Publifolha, 2009) e "Ciência - Use com Cuidado" (Editora da Unicamp, 2008). Artigo publicado na "Folha de SP":

Parece unânime entre comentaristas da política a avaliação de que a provável candidatura de Marina Silva à Presidência da República pelo Partido Verde oxigenou a pré-campanha eleitoral. Ótimo para a campanha. Péssimo para a senadora.

Sua entrada em campo traz uma chance de bagunçar o maniqueísmo PT x PSDB, na medida em que voltou a assanhar Ciro Gomes para a disputa.

Garantia certa de calor, ainda que não de muita luz, ou ar fresco. E a intenção alegada de Marina Silva é iluminar e arejar a discussão.

Ela quer usar o palanque e a televisão para impor temas ambientais ao debate sobre os rumos do país. Tem experiência e conhecimento para isso.

É duvidoso, contudo, que tenha maturidade para elevar esse debate acima do patamar tacanho em que aliados costumam mantê-lo. Seu primeiro e maior pepino é o PV.

A senadora se propõe a refundar ou ressignificar o partido (seja lá o que queira dizer com isso), mas topará com muitos macacos velhos pelo caminho. Um partido cujas figuras de proa vão de um Sarney a um Gabeira não parece "orgânico" o bastante (para usar um termo caro a seus seguidores) para o desafio.

A própria Marina Silva é prisioneira do cercado temático -o salvacionismo ambiental- em que construiu trajetória admirável. Com todas as realizações e a repercussão mundial de sua carreira, prossegue refém de causas ou modelos locais e regionais, como as reservas extrativistas e a luta antibiopirataria. Todas com escasso potencial para forjar uma proposta ousada de desenvolvimento para a Amazônia, menos ainda para o Brasil.

Sua longa atuação no Senado nunca alçou voo além da província verde. A Marina Silva senadora sempre esteve mais próxima do baixo clero que dos cardeais no comando da Casa. Pode ter sido o preço pago para manter-se fiel à própria biografia, mas condenou-a a certa irrelevância, ainda que cercada de prestígio.

No governo Lula, sua maior contribuição foi uma ideia abstrata: a "transversalidade" da questão ambiental. Perdeu todas as batalhas importantes para a rainha do pragmatismo, a ex-pedetista Dilma Rousseff, cuja candidatura agora balança. Mas teve a coragem de entregar a cabeça ao presidente, não o juízo; meses depois, consegue dar o troco, com o vagar e a astúcia de um jabuti.

Tanto apego às origens, contudo, explica também atitudes descabidas como aceitar, ainda ministra, participar de uma reunião de apologia ao criacionismo, ou patrocinar celebridades esotéricas como Fritjof Capra.

Marina Silva tem o direito de ser religiosa ou mística, óbvio. Como integrante de um governo leigo, não devia dar o mau exemplo de promover doutrinas anticientíficas.

A deficiência crônica de um projeto para o Brasil passa decerto pela incorporação visionária da questão ambiental. Não existe proposta coerente e articulada para revolucionar padrões de uso da terra, do capital natural e humano e de energia moldados por séculos de dilapidação colonial, mentalidade escravista e desenvolvimentismo a ferro e fogo.

Esse programa não virá de Dilma, Serra ou Ciro. Nem de Marina Silva. O projeto de que o país precisa, diante do xeque-mate planetário armado pelo aquecimento global, terá de delimitar e negociar a contribuição de alguns setores que a neorreligião verde nasceu para demonizar: petróleo, hidrelétricas, energia nuclear, biotecnologia, agronegócio... A candidata Marina Silva não está pronta para isso.
(Folha de SP, 16/8)

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NOTA DESTE BLOGGER:

Este jornalista é o 'darling' dos ateus, mas é um perigo para a democracia. Ele sabe que qualquer brasileiro pode se candidatar à Presidência da República independente de sua subjetividade religiosa:

Constituição do Brasil

Art. 14. (*) A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante:

I - plebiscito;
II - referendo;
III - iniciativa popular.

§ 1.º O alistamento eleitoral e o voto são:

I - obrigatórios para os maiores de dezoito anos;
II - facultativos para:

a) os analfabetos;
b) os maiores de setenta anos;
c) os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos.

§ 2.º Não podem alistar-se como eleitores os estrangeiros e, durante o período do serviço militar obrigatório, os conscritos.

§ 3.º São condições de elegibilidade, na forma da lei:

I - a nacionalidade brasileira;
II - o pleno exercício dos direitos políticos;
III - o alistamento eleitoral;
IV - o domicílio eleitoral na circunscrição;
V - a filiação partidária;
VI - a idade mínima de:

a) trinta e cinco anos para Presidente e Vice-Presidente da República e Senador

...

Ateus são antropofágicos e não suportam conviver com os diferentes. Quando alcançam o poder, o que vem imediatamente é a 'Solução Final' dos que não rezam pela bíblia de Dawkins.

Vade retro, Béria, oops, Marcelo Leite!