Claudio Angelo, da Folha de São Paulo, embevecido com a prosa dawkinsiana em "O Maior Espetáculo da Terra"

segunda-feira, novembro 30, 2009

São Paulo, sábado, 28 de novembro de 2009 Folha de São Paulo Ilustrada

Obra traz Dawkins na melhor forma

"O Maior Espetáculo da Terra", que sai agora no Brasil, é um "tour de force" darwinista, sem mau humor de livros anteriores

Biólogo britânico seduz o leitor com racionalidade e dialoga com ele o tempo todo ao desfilar amostra das evidências da evolução

CLAUDIO ANGELO
EDITOR DE CIÊNCIA

Richard Dawkins atende a ligação do jornalista, algo que não faz com frequência. Como a entrevista é para falar do livro "O Maior Espetáculo da Terra", que acaba de sair no Brasil, o biólogo britânico se resigna a concedê-la. Mas se vinga do repórter pela impertinência.

Responde ora com monissílabos ("É."), ora com instruções ("Olhe no meu site."). Questionado sobre os neolamarckistas, seus adversários intelectuais, o maior divulgador de ciência vivo encerra o tema com a menos científica das atitudes: "Não quero discutir isso". No total, respondeu a 15 questões em 13 minutos. O leitor será poupado da transcrição da entrevista.

Ainda bem que Dawkins não depende de simpatia para vender livros. Seria uma pena que o público deixasse de ler "O Maior Espetáculo da Terra" devido à inteligência emocional do autor. Porque o livro não é só bom: é um "tour de force" darwinista, que vem a calhar no ano em que se celebra o bicentenário de nascimento de Charles Darwin (1809-1882), pai da teoria evolutiva, e os 150 anos de "A Origem das Espécies".

Na nova obra, Dawkins desfila uma pequena (mas significativa) amostra das evidências em favor da evolução. Como Darwin, começa explicando a seleção artificial, processo pelo qual escolhas humanas são capazes, por exemplo, de criar a couve-flor, o brócolis e a acelga a partir de um único ancestral -um tipo de repolho selvagem.
Depois, põe-se a explicar como a natureza faz esse mesmo serviço, transformando as espécies em intervalos (em geral) imensos de tempo por meio principalmente da seleção de variações geradas ao acaso numa população. Todos os conceitos fundamentais do pensamento evolutivo são apresentados por Dawkins, que diz ainda como e por que os cientistas sabem que é tudo verdade.

O álibi do autor para escrever a obra é converter criacionistas. Desculpa esfarrapada: antes mesmo de publicar o anterior, o libelo ateísta "Deus, um Delírio", o inglês já era o inimigo número 1 dessa turma. "Deus, um Delírio" ataca as religiões com tanta virulência que os criacionistas, se pudessem ser convertidos, não ouviriam argumentos de Dawkins.

"O Maior Espetáculo da Terra" traz a verve dawkinsiana em sua melhor forma (perdida no chatérrimo "A Grande História da Evolução", de 2004). É uma leitura leve, em que Dawkins seduz o leitor com racionalidade e dialoga com ele o tempo todo. A certa altura, recomenda que feche o livro e só o retome se estiver descansado, porque será obrigado a explicar conceitos difíceis. Mas a explicação a seguir é tão boa que a dificuldade desaparece.

Os fãs de Dawkins notarão a ausência da rabugice característica do autor. Em vez de chamar o leitor de idiota, Dawkins faz piadas. O repórter impertinente questiona se tanto bom humor é efeito da aposentadoria, em 2008. O biólogo protesta: diz que "Deus, um Delírio", é um livro bem-humorado, tá? Puxa, que bom que ele avisou.

O MAIOR ESPETÁCULO DA TERRA

Autor: Richard Dawkins
Tradução: Laura Teixeira Motta
Editora: Companhia das Letras
Quanto: R$ 53 (440 págs.)

Fonte

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NOTA IMPERTINENTE DESTE BLOGGER:

Comprar este livro é perder R$ 53,00. Razão? Se estes são os melhores argumentos de Dawkins a favor do fato da evolução, esqueça. Eu estou devendo uma resenha sobre este livro cujo livro me reporta ao maior circo que já vi na minha vida:

Fonte.

e me fez lembrar a seguinte frase: viúva é como café requentado, é bom, mas café novo passado na hora é muito melhor. O livro de Dawkins repete o mantra, oops o café requentado: a evolução é um fato, Fato, FATO!

NOTA MAIS DO QUE IMPERTINENTE DESTE BLOGGER:

Ironia do destino: no ano de Darwin 200, este livro de Dawkins não fez parte da lista dos 10 melhores livros de 2009 do The Times Literary Supplement. Sabe onde? Lá na terra de Darwin e Dawkins. Sabe qual foi um dos livros escolhido por Thomas Nagel, um ateu? Signature in the Cell, de Stephen Meyer, um dos teóricos do Design Inteligente.