Nobel de Química relata saga para o reconhecimento dos quasicristais

quinta-feira, julho 26, 2012

Nobel de Química relata saga para o reconhecimento dos quasicristais

26/07/2012

Elton Alisson, de São Luís (MA)

Agência FAPESP – Uma das mais importantes descobertas na química nas últimas décadas – com aplicações nas mais diversas áreas, como a de engenharia de materiais – enfrentou o ceticismo de boa parte da comunidade científica até ser aceita após mais de uma década. Aceitação que culminou com o prêmio Nobel.


Descoberta de cristais inusitados, em 1982, enfrentou o ceticismo da comunidade científica até ser aceita após mais de uma década, contou o israelense Daniel Shechtman em conferência na 64ª Reunião Anual da SBPC (foto:E.Alisson)

A saga do reconhecimento e afirmação dos quasicristais – formas estruturais ordenadas, como os cristais, mas em padrões que não se repetem – foi relatada por Daniel Shechtman, pesquisador do Instituto de Tecnologia de Israel (Technion) e ganhador do Nobel de Química em 2011 pela descoberta, em conferência na 64ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em São Luís (MA).

Em abril de 1982, enquanto examinava uma liga de alumínio e manganês em um microscópio de transmissão eletrônica, Shechtman deparou com uma imagem que contradizia as leis da natureza.

[Nota do blogger 1: o conceito de ciência demarcacionista naturalista - somente as leis da natureza físico-químicas explicarem a realidade - foi violado aqui.

QED: O atual conceito de ciência, especialmente em ciências duras - não é o caso da biologia que só tem princípios, precisa ser revisto, pois, justamente em biologia, uma ciência fraca, a metodologia naturalista é aplicada e defendida com unhas e dentes!!!

A complexidade irredutível de sistemas biológicos e a informação complexa especificada também são fenômenos físico-químicos que contradizem, não as leis da natureza, mas o ethos filosófico materialista da maioria dos biólogos.] 

Até então, acreditava-se que em toda matéria sólida os átomos se agrupavam dentro de cristais em padrões simétricos repetidos de forma periódica e constante e que essa repetição era fundamental para se obter um cristal, como um diamante.

Porém, a imagem observada por Shechtman mostrava que os átomos em um cristal poderiam ser agrupados em um padrão que simplesmente não se repetiria jamais.

Ao discutir a descoberta com colegas no laboratório, as reações variaram do encorajamento para publicar os resultados à rejeição total da ideia. “O chefe do laboratório em que eu trabalhava colocou um livro sobre difração na minha mesa e disse que eu devia lê-lo, porque o que eu dizia ia contra tudo o que já tinha sido publicado. Segundo ele, o que eu estava propondo simplesmente não existia. Tempos depois, fui convidado por meu chefe a deixar o grupo, o que acabei fazendo”, contou.

[Nota do blogger 2: aqui fica patente uma das formas destacada por Dale Sullivan no artigo Keeping the rhetoric orthodox: Forum control in Science sobre o controle de fórum - a observância da ortodoxia em ciência através de atos retóricos não públicos e público, neste caso aqui a ridicularização de Shechtman - é ignorante e precisa aprender, e o negar o fórum ao impedir sua participação em grupos científicos de pesquisas.

Nós teóricos e proponentes da teoria do Design Inteligente sabemos muito bem o que o controle de fórum há mais de uma década].

O primeiro artigo submetido em 1983 por Shechtman a um periódico da área de química, descrevendo a descoberta, foi rejeitado pelos pareceristas.  

[Nota do blogger 3: Sullivan chama a revisão por pares de ato retórico não público de negar o fórum. Aqui minha opinião: muitas vezes os pareceristas funcionam como guarda-cancelas protetores dos paradigmas consensuais da Academia impedindo a livre circulação de ideias, hipóteses e teorias científicas, e impedindo o avanço da ciência. Lembram do DNA lixo? Em 1998, teóricos do Design Inteligente afirmavam que eles teriam funcionalidade dentro do genoma. Não fomos ouvidos, e o paradigma evolutivo que descrevia o DNA lixo como resquício evolucionário, impediu o avanço da ciência por uma década.]

Esses sugeriram que os resultados da pesquisa fossem publicados em uma revista de metalurgia, o que acabou sendo feito por Shechtman e seus colaboradores.

Em 1984, uma versão resumida do primeiro artigo original sobre os quasicristais foi submetida e aceita pela prestigiosa Physical Review Letters, o que contribuiu para a maior aceitação da descoberta.

Entretanto, mesmo com essa publicação, a rejeição aos quasicristais não acabou. “A partir da publicação do artigo, comecei a receber diversas ligações de cientistas de diferentes áreas comunicando que estavam descobrindo outros quasicristais, mas parte da comunidade científica ainda não havia se convencido da importância da descoberta”, relembrou.

De acordo com Shechtman, um dos cientistas que mais duvidaram e detrataram os quasicristais foi nada menos que o norte-americano Linus Pauling (1901-1994), o único na história a ganhar sozinho o Nobel em duas áreas diferentes – Química e Paz.

Ganhador do Nobel de Química em 1954, por estudos sobre a natureza das ligações químicas, Pauling disse que não existiam quasicristais ou quasimateriais, mas sim “quasicientistas”, em um trocadilho jocoso com a descoberta. “Pauling era um cientista brilhante, mas que não tinha humildade e achava que sabia de tudo”, disse Shechtman.

[Nota deste blogger 3: Sullivan chama isso de atos retóricos públicos de censura e ridicularização públicas. Nós do Design Inteligente somos jocosamente chamados de IDiotas!]

Apesar das divergências em relação aos quasicristais, Shechtman conta que concordava em vários outros assuntos com Pauling, com quem se encontrou esporadicamente e manteve contato por um longo tempo.

Certa vez, Pauling lhe enviou uma carta propondo que publicassem um artigo científico juntos, ao que Shechtman respondeu afirmativamente, desde que Pauling aceitasse a existência dos quasicristais.

Pauling treplicou que, então, seria preciso esperar mais tempo para que se comprovasse a existência dos quasicristais e pudessem concretizar a ideia de escreverem um artigo científico juntos. “Quando ele morreu, a quaseperiodicidade dos cristais já estava quase que totalmente aceita”, disse Shechtman.

Comprovação definitiva

Segundo Shechtman, uma pesquisa que realizou em 1987 juntamente com pesquisadores da França e do Japão, em que analisaram a estrutura de um cristal maior do que os inicialmente estudados, contribuiu para a comprovação definitiva da existência dos quasicristais, utilizados hoje no desenvolvimento de materiais que vão de aços inoxidáveis mais resistentes a isolantes elétricos e térmicos.

[Nota do blogger 4: a existência da complexidade irredutível de Behe e a informação especificada de Dembski ainda não foi comprovada definitivamente pela comunidade biológica, mais pela resistência ideológica do que sujeição ao(s) método(s) científico(s): não falsificaram essas proposições do Design Inteligente, e nem explicaram como isso se deu gradualisticamente em termos evolucionários darwinianos.]

Os resultados da pesquisa de 1987 foram apresentados em um congresso internacional de cristalografia, no mesmo ano na Austrália. Em função disso, foi criada uma comissão científica para avaliar os quasicristais. Finalmente, em 1992, a União Internacional de Cristalografia mudou a definição de cristal para incluir os quasicristais.

“Por muito tempo, ordem era sinônimo de periodicidade. Hoje, sabemos que a ordem pode ser periódica ou quase periódica”, disse Shechtman.

O cientista israelense conta que os quasicristais só foram descobertos em 1982 porque até então não havia sido desenvolvido o microscópio eletrônico de transmissão, que permite estudar as estruturas dos materiais com maior nível de detalhe.

“Muitos pesquisadores só usam esse tipo de microscópio como uma espécie de lupa, para obter imagens maravilhosas, mas é preciso ser um perito no uso dessa técnica para explorar toda sua potencialidade”, disse Shechtman, dirigindo-se a uma plateia de estudantes e pesquisadores que lotaram o auditório na Universidade Federal do Maranhão onde foi realizada sua conferência.

Investimento em ciência

Em sua segunda visita ao Brasil, como parte de uma missão organizada pelo Ministério das Relações Exteriores de Israel, Shechtman disse ter ficado impressionado com a qualidade da ciência que vem sendo realizada no Brasil.

“Um país com uma biodiversidade tão grande deve realizar, principalmente no âmbito da Amazônia, grandes investimentos em ciências biológicas para realização de pesquisas integradas com pesquisadores da área de química, por exemplo”, disse.

Shechtman é o segundo israelense a ganhar o prêmio Nobel de Química em um intervalo de apenas dois anos e o quarto em uma década. Em 2009, Ada Yonath também recebeu o prêmio, juntamente com Venkatraman Ramakrishnan e Thomas Steitz, por pesquisas sobre a estrutura do ribossoma, também na área de cristalografia.

“Isso se deve aos investimentos que estão sendo feitos em Israel em todas as áreas da ciência”, disse Shechtman à Agência FAPESP, ao ser perguntado por que o país está se tornando um celeiro de prêmios Nobel.

Shechtman também contou que realiza em Haifa um projeto de educação de ciências, voltado para crianças ainda no jardim da infância, em que são realizados experimentos científicos, juntamente com os professores e os pais, visando estimular desde cedo o interesse e o engajamento científico.

FONTE: Agência FAPESP

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NOTA DESTE BLOGGER: Com este exemplo de Shechtman fica mais fácil entender por que este blogger usa o termo Nomenklatura científica para explicar esse controle de fórum.

Fui, nem sei por que, cada vez mais convencido de que ainda falta muito para a ciência qua ciência seja praticada. O que temos é uma ditadura epistemológica que coloca camisas de força nos que ousam pensar fora do paradigma.

Triste ciência!!! Mas ainda há esperança - quem sabe um dia quando a comunidade científica se render à proposição de que sinais de inteligência são detectados na natureza (e até nos cientistas!!!) isso tudo culmine no primeiro Prêmio Nobel em Biologia???