O uso das redes sociais na divulgação científica

terça-feira, fevereiro 23, 2016



O uso das redes sociais na divulgação científica

Por Cleyton Carlos Torres em 23/02/2016 na edição 891

Não basta fazer a coisa certa; é preciso dizer a todos que você está fazendo a coisa certa. O pensamento, originado na mente do magnata empresarial John Rockfeller, foi um dos grandes responsáveis por revolucionar sua imagem perante a sociedade americana: de empresário com punhos de ferro a um benfeitor respeitável. Tudo através das relações públicas. Mas, em que lugar esse pensamento se encaixaria na ciência, ou, melhor dizendo, na divulgação sobre ciência?

A 67ª Reunião Anual da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), que aconteceu em julho na Universidade de São Carlos (UFSCAR), contou com pesquisadores e editores que debateram a importância de se levar a comunicação sobre ciência para o universo digital, principalmente as redes e mídias sociais. O tema tem ganhado contornos mais densos em discussões não só por aqui. O uso mais próximo e intenso de mídias sociais para a divulgação de informações acerca de pesquisas científicas foi defendido por participantes em um encontro de 2013 da AAAS (American Association for the Advancement of Science) em Boston, EUA, que já levantava o atraso dos cientistas no usa das mídias sociais.

Portanto, não basta fazer ciência, é preciso dizer a todos – ou pelo menos ao maior número possível de interessados – que você está fazendo ciência. Aliás, deve ir além: não basta divulgar que está fazendo ciência apenas entre seus pares, pois é preciso criar interesses na sociedade como um todo, conversando com os interessados e com parcelas de um público que possivelmente ainda irá existir.

Em um mundo altamente conectado, como o nosso, divulgar ciência significa, também, utilizar as ferramentas disponíveis no universo online digital, principalmente as redes sociais. Dentre elas, podemos destacar o Facebook (com seus mais de 1 bilhão de usuários), o Instagram, a rede social de microblogs Twitter e até mídias consolidadas, como os blogs e os fóruns. Mas quem avisa amigo é: apenas transpor o conteúdo de uma plataforma tradicional, como uma revista científica, por exemplo, para canais digitais é um erro fatal. E um erro muitas vezes sem volta.

O funcionamento “mercadológico” das ferramentas digitais

A comunicação científica como um todo, englobando tanto o jornalismo como a divulgação, necessita desses meios para dar uma guinada no interesse público. As chamadas mídias sociais digitais conectadas em rede, denominação com nome e sobrenome para as redes sociais, são plataformas dinâmicas e frenéticas que possuem linguagem e atmosfera próprias. Adentrar esse cenário com o mesmo pensamento com o que o jornalismo tradicional utilizou na migração para o digital pode não só impedir o interesse de novos leitores como, ainda, minar públicos já conquistados.

Isso é possível de ser observado quando jornalistas e divulgadores científicos falam dos canais digitais sem apresentar propriedade equivalente. A insistência em erros conceituais do que seria um blog, um podcast ou até mesmo a diferenciação existente entre uma publicação no Facebook e no Twitter demonstram que ainda há um abismo colossal entre a comunicação sobre ciência e a utilização estratégica dos meios digitas, ações que muitas vezes impõe um olhar do marketing em nossas atitudes. Marketing? Sim, o marketing. Um entendimento maior em marketing não significa transformar a ciência em um produto ou serviço de varejo, mas auxiliaria na manutenção de um pensamento mais ágil de como trilhar por esses canais.

As discussões entre pesquisadores e editores, tanto aqui como fora do país, demonstram que o setor já tem se aproximado desse universo, porém ainda há a necessidade de se levantar questões também técnicas nesse debate: o que são métricas? Como estipular metas tangíveis? Como adaptar o conteúdo sobre ciência nas diferentes linguagens? Como analisar os resultados?

Essas e outras questões podem ser levantadas toda vez que um divulgador de ciência se prender apenas ao número de visualizações ou número de acessos como resposta ao seu trabalho, por exemplo. Aliás, essa metragem (dos acessos e visualizações) já não é mais acompanhada tão de perto pelo mercado, e um entendimento maior do funcionamento “mercadológico” das ferramentas digitais poderia munir o jornalista ou divulgador científico de técnicas propícias para sua exposição nesse meio.
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